segunda-feira, 24 de novembro de 2014

PAULO TRAIU JESUS?

Alguns autores argumentam que Paulo é o fundador do Cristianismo e não Jesus. Obviamente, sabemos que Jesus não era cristão, pois o cristão é aquela pessoa que tem um mediador entre Deus e ele, confessa pecados, se arrepende e precisa do novo nascimento. A religião de Jesus era única, o relacionamento dEle com Deus é direto, não precisou de regeneração, nem de justificação, portanto, Jesus não era cristão. Mas é um equívoco afirmar que a teologia de Paulo né contrária a Cristo. Muitos criticam Paulo dizendo que seus ensinos eram completamente diferentes dos ensinos de amor e de ações sociais deixados por Jesus. Em dezembro e 2003, o jornalista Yuri Vasconcelos publicou uma matéria na revista Superinteressante cujo tema era “São Paulo traiu Jesus?” onde argumenta que para conquistar fiéis, Paulo fez concessões que desagradaram aos discípulos de Jesus. Ao analisarmos a matéria, podemos perceber que seus argumentos são inconsistentes e facilmente refutáveis. O primeiro ponto que devemos analisar dessa matéria é que todos os argumentos que questionam o alinhamento entre os ensinos de Paulo e Cristo estão baseados no livro apócrifo “O Evangelho dos 12 santos”. A bíblia é composta de 66 livros divinamente inspirados Ao longo da sua história, os cristãos sempre foram chamados a defender a sua confiança nestes 66 livros, que consideram como Palavra de Deus. Os argumentos geralmente usados são as reivindicações dos autores do AT e NT de que estão escrevendo a palavra de Deus; o testemunho Jesus Cristo sobre as Escrituras; as evidências da ciência: Design Inteligente, etc.; as evidências da arqueologia; a suprema excelência do seu conteúdo (quem somos; de onde viemos; para que existimos; há vida após a morte? Quem é Deus? como posso me relacionar com ele; como resolvo o problema da culpa?); a eficácia da sua doutrina nas vidas transformadas; a harmonia de todas as suas partes; o seu alvo escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória); as profecias cumpridas; sua preservação em meio aos ataques. Portanto, não há motivos para darmos créditos a um “evangelho” que não segue esses critérios reconhecidos pela cristandade desde os pais da igreja. A matéria afirma que existia uma rivalidade entre os apóstolos fazendo referência ao capítulo 2 da carta aos gálatas, alegando que Pedro e Paulo teriam brigado em Antioquia. Na verdade, precisamos compreender o capítulo dois e toda a carta aos gálatas com mais clareza. Paulo escreve aos gálatas com dois propósitos maiores: (1) combater um grupo de judaizantes que estava se infiltrando na igreja obrigando os cristãos pagãos a cumprirem os rituais judeus e (2) defender o seu apostolado. No capítulo 2 Paulo diz que “quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa [...] nada me comunicaram;” mostrando que quando ele apresentou seu evangelho aos que pareciam ser líderes na igreja, não existiu conflito ou acréscimo ao conteúdo do ensino de Paulo, mas “pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão [..] deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão. Logo após ele relata a discussão com Pedro em Antioquia por causa da postura dissimulada de deste quando os judeus da parte de Thiago chegaram, não por questões ideológicas como sugere a o artigo. Em Atos 15, vemos Thiago citando Amós 9: 11 e 12 dizendo que está se cumprindo e “que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus” resolvendo, portanto, qualquer divergência existente. Sobre a relação dos cristãos com o Estado, a matéria diz que Paulo era um agente do estado romano, pois Paulo instruía os cristãos a se submeterem às autoridades e a pagarem impostos (Romanos 13). Argumenta ainda que Jesus era contrário a Paulo, pois Ele se insurgia contra as leis do estado. Mais uma vez a matéria tá equivocada, Jesus não veio promover uma guerra pra libertar o povo do império romano, veio libertar do pecado. O que Cristo ensina com relação ao estado nós podemos ver em sua resposta aos discípulos dos fariseu e aos herodianos em Mateus 22: 16-22 quando diz “dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Sobre a escravidão, a revista afirma que Paulo incentivava a escravidão baseando-se no texto de Ef 6:5. Não podemos esquecer que a base da economia da época era escravocrata. Eram fatos simples e corriqueiros. O sonho dos homens livres era ter escravos. O sonho dos escravos era serem livres e terem escravos para servi-los. Jesus curava e pregava aos escravos (Marcos 8:5,13). Lidava com eles com o mais absoluto respeito e tratava-os como iguais. Assim como Jesus, Paulo pregava o respeito mútuo entre os indivíduos. Se continuarmos a leitura de alguns versos do capítulo 6 da carta aos efésios veremos Paulo dizendo “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas.” (Efésios 6:9). Em Gálatas 3:28 Paulo diz “nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” provando que ele não é um escravocrata gospel, mas lguém que acredita na liberdade em Cristo. Agora a matéria faz críticas com relação a submissão feminina. Paulo agora é chamado de machista com base em 1Tm 2:9-12. É consenso entre os estudiosos que Paulo escreveu a carta para instruir Timóteo a combater uma perigosa heresia que havia se infiltrado na igreja de Éfeso, que estava sob a sua responsabilidade. Paulo não dá muitos detalhes na carta sobre a natureza dessa heresia. Uma reconstrução cautelosa nos revela os seguintes pontos: 1) Os falsos mestres em Éfeso estavam semeando dissensões e se ocupando com trivialidades (1 Tm 1.3-7; 6.4-5; cf. 2 Tm 2.14, 16-17, 23-24); 2) Os falsos mestres ensinavam que a prática ascética era um meio para se alcançar uma espiritualidade mais elevada. Estavam ensinando a abstinência de certas comidas, do casamento, e do sexo em geral (1 Tm 4.1-3). Possivelmente estavam ensinando que o treinamento físico também servia para se alcançar esta espiritualidade (1 Tm 4.8); 3) Várias mulheres da igreja estavam seguindo os falsos mestres e seus ensinos (1 Tm 5.12,15; cf. 2 Tm 3.6-7); 4) Aparentemente, os falsos mestres estavam encorajando tais mulheres a trocarem o seu papel costumeiro no lar por uma atitude mais igualitária com respeito a seus maridos, e aos homens em geral. O programa dos falsos mestres incluía denegrir o casamento, e isso certamente induziria ao abandono das funções tradicionais da mulher no lar. Algumas evidências sugerem esta interpretação. Em suas instruções às viúvas, Paulo determina que as mais novas se casem, tenham filhos e cuidem das suas casas (1 Tm 5.14), visto que já "algumas se desviaram, seguindo a Satanás" (5.15). Desde que Paulo considera o ensino dos falsos mestres como sendo "ensino de demônios" (4.1-2), segue-se que ir após Satanás seria aceitar o ensino dos falsos mestres em oposição ao que Paulo ordena em 5.14. Embora não saibamos os motivos com exatidão, transparece claramente que o ensino dos falsos mestres em Éfeso incluía a rejeição dos papéis tradicionais das mulheres no casamento, e um encorajamento a que elas reivindicassem papéis iguais na igreja e nos lares. A situação parece bastante similar à da igreja de Corinto, onde as mulheres procuravam exercer no culto funções até então privativas dos homens cristãos. É contra este pano de fundo que Paulo determina às mulheres da igreja de Éfeso que aprendam em silêncio, que não ensinem nem exerçam autoridade sobre os homens, e que estejam em perfeita submissão (1 Tm 2.12). Paulo com isso está preservando a família e a unidade da igreja de Cristo e podemos facilmente encontrar em outras passagens Paulo falando sobre a importância das mulheres no serviço a Deus: "Cumprimentai Trifena e Trifosa, [mulheres] que trabalharam arduamente no Senhor. Cumprimentai Pérside, nossa amada, pois ela realizou muitos labores no Senhor."(Romanos 16:12). E como vimos no texto de Gálatas 3:28 para Paulo “[..]não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Por ultimo, a matéria fala sobre a doutrina da salvação. Segundo eles Cristo ensinaria a obediência à lei como meio de salvação, enquanto Paulo pregaria a salvação por meio da fé. Mais uma vez o escritor dessa matéria se equivocou. Paulo diz em Ef 2:8 que a salvação é pela Graça mediante a fé. Esta afirmação contradiz o ensino de Cristo e dos demais apóstolos. Em João 6:68-69 Pedro diz “ Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente” e Jesus em João 3:16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Portanto, a salvação é, e sempre foi, pela fé no Filho de Deus. Os ensinos de Jesus não podem ser descartados como fonte do pensamento de Paulo. Paulo não conheceu a Jesus pessoalmente, mas ele conheceu os ensinos de Jesus através da igreja de Antioquia (sede da primeira igreja cristã gentílica), pois logo após a sua conversão ele foi levado pra lá por Barnabé onde permaneceu por muitos anos e aprendeu muito do cristianismo com os cristãos de lá. Para uma compreensão maior sobre a teologia de Paulo, precisamos fazer isso à luz dos evangelhos e à luz do antigo testamento visto que ele era judeu e conhecedor da lei.