segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Mensagem mt 4:12-17

Dezembro de 2009. Vivemos o período de natal. Tempo de festas, onde os adultos se embriagam. Tempo troca de presentes, onde crianças do mundo inteiro acreditam na lenda de um bondoso velhinho da barba branca q vista àqueles q foram bonzinhos durante o ano. Mas, será esse o verdadeiro natal? Será essa a real mensagem q esse momento deveria passar? Não!
Apesar da insistência do mundo em querer a todo custo mudar a mensagem do natal, mudar a mensagem de Deus, por mais de 2000 anos Ele vem mantendo a sua palavra, a sua mensagem. Mensagem essa que teve poder pra mudar o curso da história da humanidade, que teve poder pra dividir o tempo em antes e depois dela, que tem o poder de mudar a história do homem, que tem poder pra mudar a tua história.
Mas que mensagem é essa que Deus teve o cuidado de guardar por todo esse tempo? Essa mensagem fala sobre quem Ele é. Diz que Ele é amor (1Jo 4:8) e que Ele te ama (Jo 3:16). Amor esse que muitas vezes não conseguimos compreender, mas o amor de Deus não foi idealizado pra compreendermos plenamente, mas para ser aceito. No texto de Mt 4:12-17 vemos traços desse amor divino, “povo que jazia em trevas viu grande luz”. Mas você pode perguntar “o q tenho eu com as trevas?” e a resposta é que todos pecaram (Rm 3:23), que não há um só justo (Rm 3:10-18) e que a nossa justiça é como trapo de imundícia (Is 64:6). Amados, o salário do pecado é a morte (Rm 6:23). Só a morte é pagamento válido pelo pecado, mas não a morte de qualquer um. Só a morte de um justo. Só na morte de Cristo temos pagamento válido por nossos pecados. E quem matou Jesus? Deus matou Jesus! E por quê? Por que Deus não convive com o pecado(Is 59:2), não há como servir a Deus e viver uma vida de pecado. Quando Deus disse “sede santos” foi isso mesmo que ele quis dizer, não foi “parcialmente santos” , mas santos, separados do pecado. E se Deus não poupou Seu filho por nossos pecados, porque ele te pouparia?
Mas, o que é pecado? Todas as vezes que você negou Deus você pecou, todas as vezes que você quis viver só pra si você pecou. Por isso a luz brilhou, para mostrar o pecado ao pecador e dizer “arrependei-vos” porque perto está o fim, porque perto está quando não poderão mais se arrepender, porque perto está quando verão a glória de Deus e os seus anjos declarando “Santo! Santo! Santo é o Senhor!”. Essa mensagem parece dura? Você pode dizer “onde esta esse Deus de amor? Eu quero o Deus de amor”. Mas o Deus de amor está no mesmo lugar do Deus da Justiça(Sf 3:5), no mesmo lugar do Deus Santo(Sl 22:3), no mesmo lugar do Deus da verdade(Jo 4:6). E que amor diria ta tudo bem quando na verdade não está? O amor está em revelar-se a você e chamá-lo ao arrependimento.
E o que é arrependimento? Arrependimento não é remorso, não é sentimento de culpa, não nem mesmo apenas reconhecer o erro. Arrependimento (metanóia em grego) quer dizer mudança de atitude, ou seja, atitude contrária, ou oposta, àquela tomada anteriormente. Arrependimento é converter-se a Deus e é você que deve se converter a Ele, não Ele a você. E quando Jesus nos chama ao arrependimento é porque ele vai dizer “perto está o reino”, é porque ele tem algo melhor pra você e pra mim, é porque o seu reino é melhor que tudo, é porque nem olhos viram nem ouvidos ouviram aquilo que Deus tem guardado para aqueles que o amam (1Co 2:9). E aí sim acontece o natal, quando um pecador aceita essa mensagem e Cristo nasce em seu coração. Isso é natal, o nascimento de Jesus. Esse é o tempo de arrependimento, de voltar a Deus.

Deus nos abençoe!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Apascentando ovelha ou entretendo bode

Apascentando ovelha ou entretendo bode

C.H. Spurgeon

* * *

Um mal acontece no arraial professo do Senhor, tão flagrante na sua impudência, que até o menos perspicaz dificilmente falharia em notá-lo. Este mal evoluiu numa proporção anormal, mesmo para o erro, no decurso de alguns anos. Ele tem agido como fermento até que a massa toda levede.

O demônio raramente fez algo tão engenhoso, quanto insinuar à Igreja que parte da sua missão é prover entretenimento para o povo, visando alcançá-los. De anunciar em alta voz, como fizeram os puritanos, a Igreja, gradualmente, baixou o tom do seu testemunho e também tolerou e desculpou as leviandades da época. Depois, ela as consentiu em suas fronteiras. Agora, ela as adota sob o pretexto de alcançar as massas.

Meu primeiro argumento é que prover entretenimento ao povo, em nenhum lugar das Escrituras, é mencionado como uma função da Igreja. Se fosse obrigação da Igreja, porque Cristo não falaria dele? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Lc.16:15). Isto é suficientemente claro. Assim também seria, se Ele adicionasse "e provejam divertimento para aqueles que não tem prazer no evangelho". Tais palavras, entretanto, não são encontradas. Nem parecem ocorrer-Lhe.

Em outra passagem encontramos: "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres"(Ef.4:11). Onde entram os animadores? O Espírito Santo silencia, no que se refere a eles. Os profetas foram perseguidos por agradar as pessoas ou por oporem-se a elas?

Em segundo lugar, prover distração está em direto antagonismo ao ensino e vida de Cristo e seus apóstolos. Qual era a posição da Igreja para com o mundo? "Vós sois o sal da terra" (Mt.5:13), não o doce açúcar – algo que o mundo irá cuspir, não engolir. Curta e pungente foi a expressão: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos"(Mt.8:22). Que seriedade impressionante!

Cristo poderia ter sido mais popular, se tivesse introduzido mais brilho e elementos agradáveis a sua missão, quando as pessoas O deixaram por causa da natureza inquiridora do seu ensino. Porém, eu não O escuto dizer: "Corre atrás deste povo Pedro, e diga-lhes que teremos um estilo diferente de culto amanhã; algo curto e atrativo, com uma pregação bem pequena. Teremos uma noite agradável para eles. Diga-lhes que, por certo, gostarão. Seja rápido, Pedro, nós devemos alcançá-los de qualquer jeito!".

Jesus compadeceu-se dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca pretendeu entretê-los.

Em vão as epístolas serão examinadas com o objetivo de achar nelas qualquer traço do evangelho do deleite. A mensagem que elas contêm é: "Saia, afaste-se, mantenha-se afastado!"

Eles tinham enorme confiança no evangelho e não empregavam outra arma.

Depois que Pedro e João foram presos por pregar o evangelho, a Igreja reuniu-se em oração, mas não oraram: "Senhor, permite-nos que pelo sábio e judicioso uso da recreação inocente, possamos mostrar a este povo quão felizes nós somos". Dispersados pela perseguição, eles iam por todo mundo pregando o evangelho. Eles "viraram o mundo de cabeça para baixo". Esta é a única diferença! Senhor, limpe a tua Igreja de toda futilidade e entulho que o diabo impôs sobre ela e traze-a de volta aos métodos apostólicos.

Por fim, a missão do entretenimento falha em realizar o objetivo a que se propõe. Ela produz destruição entre os jovens convertidos. Permitam que os negligentes e zombadores, que agradecem a Deus porque a Igreja os recebeu no meio do caminho, falem e testifiquem! Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o bebado para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de promover entretenimento não produz convertidos verdadeiros.

O que os pastores precisam hoje, é crer no conhecimento aliado a espiritualidade sincera; um jorrando do outro, como fruto da raiz. Necessitam de doutrina bíblica, de tal forma entendida e experimentada, que ponham os homens em chamas.

domingo, 20 de dezembro de 2009



O que o ministro de louvor não é:

1. O ministro de louvor não é um artista.

A palavra “artista” desenvolveu o seu significado de uma palavra grega que nós traduzimos como “hipócrita”. Ou seja, o termo “artista” veio da palavra “hipócrita”. Porque o artista finge ser o que não é, foi natural o hipócrita ser confundido como tal.

Qualquer um que finge ser o que não é, é um artista, um hipócrita. E não existe um tipo de gente com o qual Jesus foi mais duro do que com estes. Nenhum hipócrita, por mais que receba dos homens, recebe algo de Deus e todo fingimento será julgado.

2. O ministro de louvor não é um animador/agitador de platéia.

A função do ministro não é fazer com que o povo se movimente. Às vezes, o momento de louvor mais se parece com uma aula de aeróbica (perdoem-me a expressão) do que um culto ao Senhor. É o: “Vamos lá galera! Comigo assim! Vai! Vai! Um dois, um dois... Agora dois passinhos... E olhas as mãozinhas!”

E, por favor, não me entendam mal. Não é meu desejo ridicularizar alguém, isso é meramente ilustrativo. Se você conhece alguém semelhante, eu peço que você o ame e ore por ele, pois aprendeu assim.

Mas, se você se vê como tal, eu só peço que repense mais uma vez acerca da sua função perante o povo de Deus, pois o povo não se reúne para ser entretido. O propósito do culto não é entretenimento, mas adoração. O povo se reúne pra que, na presença de Deus, diante de Deus, haja verdadeira adoração.

3. O ministro de louvor não é um manipulador.

Aquele que é chamado de “pai da reforma” escreveu um texto significativo que trata da abscondicidade de Deus, ou seja, do fato de que Deus se esconde. Lutero tinha a clara percepção da soberania de Deus e, por ser Ele soberano, concluiu que se Deus não quisesse, Ele não se manifestava.

Portanto, você pode berrar, pular, declarar, profetizar, apelar, fazer voz de choro, mas saiba que Deus é Deus, e se Ele não quiser, quem é que pode obrigá-Lo?

Você, como ministro, tem que saber que Deus não tem que se manifestar, que Deus não tem que fazer algo todas as vezes que VOCÊ se coloca a tocar ou a cantar. Você e eu temos que saber que, por Ele ser Deus, se Ele não quiser, Ele simplesmente tem todo o direito de não vir. Ele é Deus! É Ele quem manda!

Quando os ministros se esquecem disso, aí a manipulação acontece. Muitos ministros deixam de perceber quando Deus está agindo de tanto que tomaram o lugar de Deus. E se todas as vezes que Deus decidir não visitar a igreja você tomar à frente e buscar produzir um mover de Deus nas pessoas, se você ainda não perdeu, você logo vai perder a sensibilidade de que Deus quer tratar com a Sua igreja, ausentando-Se.

Isso na verdade é libertador! Receba esta palavra e seja livre de toda cobrança humana e saiba amado(a) que Deus nem sempre vem. Deus nem sempre TEM que vir. Sim, a Bíblia diz que Ele está no nosso meio, mas a Bíblia não diz que Ele se manifesta sempre e em todos os lugares. Ele é Deus! Seja livre de toda tentação de manipular e gerar Deus nas pessoas.

Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor.

Reconhecendo o amor em meio à disciplina e, neste mesmo amor,

Juliano Son
Ministério Livres para Adorar

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dr. Armand Nicholi é professor da Escola de Medicina de Harvard há 20 anos. Ele também ministra um curso popular na Universidade de Harvard sobre as cosmovisões contrastantes de Sigmund Freud e C.S.Lewis.

C.S. Lewis e Sigmund Freud: uma comparação de seus pensamentos e de suas visões sobre a vida, a dor e a morte.

As cosmovisões de Sigmund Freud e C.S. Lewis, ambas predominantes na nossa cultura hoje, apresentam interpretações diametralmente opostas de quem nós somos, nossa identidade, de onde viemos, de nossa herança cultural e biológica e de nosso destino. Primeiro, vamos arrumar as bases para nossa discussão fazendo três perguntas. Quem é Sigmund Freud? Quem é C.S.Lewis? E o que é uma cosmovisão?

Poucos homens influenciaram mais a estrutura moral de nossa civilização do que Sigmund Freud e C.S. Lewis. Freud foi o médico Vienense que desenvolveu a psicanálise. Muitos historiadores colocam suas descobertas ao lado das de Plank e Einstein. Suas teorias proveram um novo entendimento sobre como nossas mentes funcionam. Suas idéias permeiam diversas disciplinas incluindo a medicina, literatura, sociologia, antropologia, história e o direito. A interpretação do comportamento humano no direito e na crítica literária é profundamente influenciada pela suas teorias. Seus conceitos estão tão permeados na nossa linguagem que nós usamos termos como repressão, complexo, projeção, narcisismo, ato falho e rivalidade fraterna sem sequer nos apercebemos de sua origem.

Devido ao inegável impacto de seu pensamento na nossa cultura, os estudiosos se referem a esse século como o "século de Freud". Por que isso? À luz do que sabemos hoje, Freud é continuamente criticado, desacreditado, e difamado; ainda assim sua figura continua a aparecer em capa de revistas e artigos de primeira página em jornais como o The New York Times. As recentes pesquisas históricas intensificaram o interesse nas controvérsias em torno de Freud e seu trabalho. Como parte de seu legado intelectual, Freud defendeu veementemente uma filosofia de vida secular, materialista e ateísta.

Apesar do fato de C.S.Lewis ter conquistado reconhecimento intelectual muito antes de sua morte em 1963, seus livros acadêmicos e populares continuaram a vender milhões de cópias por ano e sua influência continua a crescer. Durante a Segunda Guerra Mundial, os pronunciamentos de Lewis no rádio fizeram sua voz a segunda mais reconhecida na BBC perdendo apenas para Churchill. Nos anos que se seguiram, a foto de Lewis apareceu na capa da Times e outras revistas importantes.

Hoje, a grande quantidade de livros pessoais, biográficos e literários sobre Lewis, o grande número de sociedades sobre C.S.Lewis em universidades; os periódicos e jornais sobre C.S.Lewis; como também o recente filme e peça sobre sua vida confirmam o sempre crescente interesse nesse homem e na sua obra. Como um jovem membro da universidade de Oxford, Lewis mudou de uma visão secular e ateísta para uma espiritual; uma cosmovisão que Freud frequentemente atacava, mas a qual Lewis abraçou e definiu em muitos de seus escritos após a conversão. Tanto Lewis quanto Freud possuíam dons literários extraordinários. Freud ganhou o prêmio Goethe de literatura em 1930. Lewis, que ensinou em Oxford e foi catedrático de Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge, produziu alguns dos maiores criticismo literários e possui uma grande quantidade de livros acadêmicos e de ficção vastamente lidos.

Cosmovisões conflitantes.

Agora, sobre a questão da definição de "cosmovisão". Em 1933, numa preleção chamada "A questão da Weltanschauung," Freud definiu cosmovisão como "uma construção intelectual que resolve todos os problemas de nossa existência, uniformemente, sobre o fundamento de uma hipótese dominante."

Todos nós, quer nos apercebamos ou não, temos uma cosmovisão; temos uma filosofia de vida, nossa tentativa de fazer nossa existência ter sentido. Ela contêm nossas respostas às principais questões que dizem respeito ao sentido de nossas vidas, questões que nos perturbam em algum período de nossas vidas, e que nós frequentemente pensamos apenas quando acordamos às três da manhã. O resto do tempo que estamos sozinhos nós temos o rádio e a televisão ligados que impedem que fiquemos sozinhos com nós mesmos. Pascal dizia que a única razão de nossa infelicidade é que nós não conseguimos ficar sozinhos num quarto. Ele alegou que nós não gostamos de confrontar a realidade de nossas vidas; a condição humana é tão basicamente infeliz que nós fazemos de tudo para nos distrair de pensar nisso.

O vasto interesse e permanente influência das obras de Freud e Lewis se originam nem tanto de seus estilos literários singulares, mas mais do apelo universal que tem as questões que eles trabalharam; questões que permanecem extraordinariamente relevantes às nossas vidas pessoais e à nossa crise social e moral contemporânea.

A partir de visões diametralmente opostas, eles falaram sobre questões como, "Há sentido e propósito para a existência?" Freud diria, "Certamente não! Não podemos nem, do nosso ponto de vista científico, abordar a questão de se há ou não sentido para a vida." Mas ele afirmaria que se você observar o comportamento humano, perceberá que o principal propósito da vida parece ser a conquista da felicidade e do prazer. Assim Freud delineou o "principio do prazer" como uma das principais características de nossa existência.

Lewis, por outro lado, disse que o sentido e propósito são encontrados na compreensão do porquê estamos aqui em relação ao Criador que nos fez. Nosso propósito principal é estabelecer um relacionamento com esse Criador. Freud e Lewis também discutiram as fontes da moralidade e da consciência. Todos os dias nós acordamos e fazemos uma série de decisões que nos sustentam ao longo do dia. Essas decisões são geralmente baseadas no que nós consideramos que é certo: o que nós valorizamos, nosso código moral. Decidimos estudar com afinco e não usar as idéias de outras pessoas, por que de alguma forma isso é parte de nosso código moral. Já Freud disse que nosso código moral vem da experiência humana, como nossas leis de tráfego. Nós fazemos os códigos por que eles são convenientes para nós. Em algumas culturas você dirige na esquerda, em outras você dirige na direita.

Mas Lewis discordaria disso. Ele disse que apesar das diferenças culturais, há um código moral básico que transcende a cultura e o tempo. Essa lei não é inventada, como as leis de tráfego, mas é descoberta, como as verdades matemáticas. Então, Freud e Lewis tinham um entendimento completamente diferente da fonte da verdade moral.

Lewis e Freud também falaram sobre a existência de uma inteligência além do universo; Freud disse "Não", Lewis disse "Sim". Suas visões os levaram a discutir o problema dos milagres na era científica. Freud alegou que os milagres contradizem tudo que aprendemos através da observação empírica, eles não ocorrem de fato. Entretanto, Lewis perguntaria; "Como sabemos que eles não ocorrem? Se há alguma evidência, a filosofia que você trás para interpretar a evidência determina como você interpretará." Então, de acordo com Lewis, nós precisamos entender se nossa filosofia exclui os milagres e, portanto, afeta nossa interpretação da evidência.

Tanto Freud quanto Lewis falaram muito sobre a sexualidade humana. Freud considerava todo tipo de amor uma forma de sexualidade sublimada, até mesmo o amor entre amigos. Lewis disse que qualquer um que pense que a amizade é baseada em sexualidade nunca teve um amigo realmente.

Eles também discutiram o problema da dor e do sofrimento. Freud era extremamente perturbado por esse problema, e Lewis escreveu alguns maravilhosos livros que ajudam a explicar o problema do sofrimento que todos nós experimentamos. O Problema do Sofrimento [Editora Vida] é uma discussão bastante intelectual da questão. Quando a mulher de Lewis morreu, ele escreveu Anatomia de uma dor [Editora Vida], que eu recomendo enfaticamente. As pessoas da minha área dizem que esse é o melhor trabalho sobre o processo de luto.

E, é claro, ambos discutiram o que Freud chamou de "O doloroso mistério da morte". Mas eu voltarei a isso mais tarde. Cada uma das questões que eu abordei são filosóficas por natureza. É significante notar que os trabalhos filosóficos de Freud tiveram mais influência na secularização da cultura do que seus trabalhos científicos. Eu vou discutir dois desses temas.

Deus em Questão

Primeiro, a existência de uma inteligência para além do universo, o que os cientistas modernos chamam de "A questão de Deus". Norman Ramsay, professor de física de partículas em Harvard, ganhou o Prêmio Nobel de Fìsica em 1989. Ele me disse recentemente que mesmo em seu campo, os cientistas tem se tornado interessados na questão de se há ou não uma inteligência para além do universo. Ele disse que é uma área de interesse relativamente recente para eles e que tem sido provocada principalmente pela aceitação da teoria do Big Bang. Eu repliquei dizendo que eu não entendi bem a relação. Ele disse, "Bem, quando acreditava-se que o universo não tinha começo era mais fácil, pois ninguém tinha que se preocupar com o que veio antes. Mas desde que alguém aceita a idéia de que o universo teve um inicio num ponto especifico do tempo, tem que pensar também sobre o que ocorreu antes. Então os físicos agora estão pensando sobre questões que somente teólogos e filósofos pensaram no passado."

Ao olharmos para o mundo ao nosso redor, nós fazemos uma de duas suposições: ou vemos o mundo como um acidente e nossa existência neste planeta como uma questão de pura chance, ou presumimos alguma inteligência para além do universo que não só provê ao universo um desenho e ordem, mas também provê sentido e propósito à vida. Como vivemos nossas vidas, como terminamos nossas vidas, o que percebemos, como interpretamos o que percebemos, tudo é formado e influenciado consciente ou inconscientemente por uma dessas duas suposições básicas.

Tendo isso em mente, Freud dividiu todas as pessoas entre "crentes" e "descrentes". Descrentes incluem todos aqueles que se consideram cínicos, céticos, escarnecedores, agnósticos ou ateus. Crentes incluem o resto, cuja crença varia desde um mero assentimento intelectual de que há algo ou alguém além deste mundo até aqueles como Lewis, Agostinho, Tolstoy e Pascal que tiveram uma experiência transformadora depois da qual sua fé se tornou o principal princípio motivador e organizador de suas vidas.

Freud foi de encontro, clara e enfaticamente, à noção de que há "Alguém" além deste mundo. Ele descreve sua cosmovisão como secular e a chama de "cientifica", e ele alegou que não há nenhuma outra fonte de conhecimento do universo que não seja "a cautelosa observação, o que chamamos de pesquisa." Logo, nenhum conhecimento, ele disse, pode ser derivado de revelação ou intuição. Ele afirmou que a noção do universo criado por um ser "parecido com o homem mas exaltado em cada aspecto, um super homem idealizado, reflete a grotesca ignorância dos povos primitivos." Ele afirmou que nenhuma pessoa inteligente pode aceitar os absurdos da cosmovisão religiosa.

Freud descreveu o conceito de Deus como uma simples projeção do desejo infantil de proteção por um pai todo-poderoso. Ele acrescentou que "a religião é uma tentativa de controlar o mundo sensorial, no qual estamos situados, por um mundo que desejamos que é desenvolvido dentro de nós como um resultado de anormalidades biológicas e psicológicas."

Ele concluiu que a visão religiosa é "tão patética e absurda e... infantil que é humilhante e vergonhoso pensar que a maioria das pessoas jamais se sobreporão a isso." Apenas por um breve período quando era estudante sob a orientação de um brilhante filósofo chamado Franz Brentano, um crente devoto, Freud duvidou de seu ateísmo, mas ele afirmou que continuou descrente pelo resto de sua vida. Um ano antes de sua morte, Freud escreveu para Charles Sanger, "Nem na minha vida privada nem nos meus escritos eu deixei em segredo o fato de ser um completo descrente."

Quando examinamos o relato cuidadosamente nós descobrimos que Freud talvez não estivesse tão certo de seu ateísmo quanto ele proclamava. Certamente ele se referia a si mesmo frequentemente como "um Judeu infiel" e ele rejeitou completamente a visão religiosa do universo, especialmente a visão Judaico-Cristã. Ele certamente atacou essa visão com todo seu poderio intelectual e de todas as perspectivas possíveis. Mas ainda assim, por alguma razão ele permaneceu ocupado com estas questões; ele simplesmente não conseguia deixá-las de lado. Ele passou os últimos trinta anos de sua vida escrevendo sobre tais questões.

Num estudo autobiográfico ele disse que essas questões filosóficas e religiosas o interessaram por toda sua vida desde sua juventude. Um grande número de evidências revelam que a cosmovisão de Freud não o deixavam confortável. A fé, de forma alguma, era caso concluído para ele, e ele era extremamente ambivalente quanto à existência de Deus.

Anna Freud, filha e Freud que faleceu há alguns anos atrás, me explicou a única forma de conhecer seu pai: "Não leia suas biografias;" ela instruiu, "leia suas cartas." Por todas suas cartas, Freud faz afirmações como, "Se algum dia nós nos encontrarmos lá em cima", "minha única, e secreta oração," e afirmações sobre a graça de Deus. Durante os últimos trinta anos de sua vida, Freud manteve uma constante troca de centenas de cartas com o teólogo Suiço, Oskar Pfister. É interessante notar que sua correspondência mais longa foi exatamente com este teólogo. Ele admirava Pfister e escreveu, "Você é um verdadeiro servo de Deus... que sente a necessidade de fazer um bem espiritual para todos que você encontra. Você fez isso por mim também." Ele, posteriormente, disse que Pfister estava, "na honrosa posição de poder levar homens à Deus."

Será isso apenas formas de expressão? Poderíamos dizer isso de qualquer um, menos de Freud, que alegava que mesmo um ato falho da fala tem um sentido.

O Problema da Dor e do Sofrimento

Eu tenho estudado os escritos de Freud como também suas cartas por muitos anos e eu concluí que o principal obstáculo que Freud tinha com a idéia de um ser inteligente além do universo era sua incapacidade de conciliar um Deus bom e todo-poderoso com o sofrimento que todos nós experimentamos em certa intensidade. Numa carta para Pfister, em 1928, Freud escreveu, "E por último, deixe-me ser indelicado. Como diabos você concilia tudo que experimentamos e esperamos nesse mundo com sua suposição de um ordem moral mundial?" E depois, numa preleção em 1944, ele disse: "Não parece ser o caso de haver um poder no universo que observa o bem-estar dos indivíduos com cuidado paternal e dirige seus interesses em direção à um final feliz. Pelo contrário, os destinos da raça humana não podem ser harmonizados nem com a hipótese de uma benevolência universal nem com a parcialmente contraditória hipótese de justiça universal. Terremotos, tsunamis, complicações que não fazem nenhum distinção entre os virtuosos e piedosos e os imorais e descrentes. Mesmo quando o que está em questão não é a natureza inanimada, mas quando o destino individual depende de suas relações com outras pessoas, não é de maneira alguma a regra de que o mal é punido e o bem recompensado. Frequentemente são os espertos e impíos que usufruem das boas coisas do mundo e o piedoso não usufrui de nada. São poderes obscuros, insensíveis e sem amor que determinam nosso destino. Os sistemas de recompensas e punições, que a religião descreve como governo do universo, parece não existir." Eu me pergunto quantos de nós pelo menos uma vez não nos sentimos assim. Freud parecia não estar ciente, é claro, de que na cosmovisão Biblíca o governo do universo está temporariamente em mãos inimigas. Antes de Anna Freud falecer, eu lhe perguntei sobre a dificuldade de seu pai com o problema do sofrimento, e ela expressou grande curiosidade em relação a isso. Num determinado momento ela me disse, "Como você explica o sofrimento no mundo? Há alguém lá em cima que diz, 'Você terá câncer. Você tuberculose', e distribui adversidades?" Eu disse que não sabia exatamente como responder à pergunta, mas eu sei que ela respeitava Oskar Pfister. Eu disse que pessoas como Pfister descreveriam a presença de um poder maligno no universo que é responsável por parte do sofrimento. Anna pareceu interessada nessa noção e voltou frequentemente a ela na nossa conversa. Devemos lembrar que Freud sofreu consideravelmente em sua vida, emocionalmente como um Judeu crescido na profundamente Católica Viena, e fisicamente com o câncer intratável na boca com o qual ele lutou por dezesseis anos de sua vida. Os procedimentos médicos não eram bem desenvolvidos na época e o causaram uma grande dose de dor física. Então precisamos ter isso em mente quando tentamos entender como ele se sentia. C.S.Lewis, ao longo da primeira metade de sua vida, também se descreveu, como Freud, como um "completo descrente". Se Freud duvidou de sua descrença quando estava na faculdade, Lewis se regozijava na sua descrença quando estudante em Oxford. Ele expressou um forte cinismo e hostilidade em relação à pessoas que ele chamava de "crentes" e compartilhava do pessimismo de Freud em relação a vida. Quando tinha trinta e três anos, já um membro popular de Oxford, Lewis experimentou uma profunda e radical mudança em sua vida e em seu pensamento. Ele rejeitou a cosmovisão materialista e ateísta e abraçou uma forte fé em Deus e em Jesus Cristo. Essa conversão de uma cosmovisão para outra começou uma fonte inesgotável de livros acadêmicos e populares que influenciaram milhões de pessoas.

Como alguém muda sua cosmovisão de uma para outra que é dramaticamente diferente? Com C.S. Lewis, essa transformação aconteceu através de um longo período de tempo. Ainda assim, sua conversão não foi menos dramática do que a de Paulo, Agostinho, Tolstoy, Pascal e muitos outros.

Essas são algumas das influências que pressionaram Lewis a mudar sua cosmovisão: Primeiro, Lewis gradativamente se tornou ciente de que a maioria dos grandes autores que ele vinha lendo por anos, eram crentes. Isso começou a fazê-lo pensar. Então, ao reler Eurípedes e Space, Time and Deity de Samuel Alexander, Lewis foi forçado a pensar sobre um profundo anseio dentro de si mesmo; ele reconheceu que era um tipo de anseio que ele experimentava periodicamente mas não conseguia entender bem. Ele chamou isso de "alegria" e escreveu bastante sobre isso. Ele percebeu que essa alegria não era um fim em si mesmo, mas um lembrete de algo ou alguém maior. Posteriormente, ele veio a crer que esse alguém é o Criador.

Segundo, Lewis ficou chocado durante uma conversa com um dos seus colegas professores de Oxford ao ouvir ele, um ateu declarado, afirmar que as evidências para a autenticidade dos evangelhos eram muito boas. As evidências eram persuasivas e as histórias dos Evangelhos pareciam ser verdadeiras. Lewis disse que é impossível compreender o impacto que isso teve nele vindo desse membro específico da faculdade.

Terceiro, ele leu O Homem Eterno de G. K. Chesterton e finalmente passou a crer em Deus. Ele escreve sobre isso de forma sucinta em Surpreendido pela Alegria:

Você tem que me imaginar sozinho naquele quarto em Magdalene, noite após noite, sentindo, a todo momento que minha mente se desviava do meu trabalho, a permanente, e persistente aproximação dEle, o qual eu não queria encontrar de maneira alguma. O que eu temia, finalmente, me sobreveio. No Trinity Term de 1929 eu finalmente desisti, e admiti que Deus era Deus, e me ajoelhei e orei: talvez, aquela noite, o mais relutante e desapontado convertido de toda Inglaterra.


Nesse momento Lewis era um teísta, não um Cristão. Ele se ocupou por muitos longos meses para entender a história do Evangelho e as doutrinas da redenção e ressurreição. Ele chegou a ler o Evangelho de João em Grego.
Então, no outono de 1931, ele jantou com dois membros da faculdade, J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, e Hugo Dyson, um professor de literatura Inglesa. Depois do jantar, os três conversaram sobre a grande questão concernente a verdade dos Evangelhos e se fizeram a pergunta que um dos pupilos de Lewis se referiu como, "Será verdadeiro, será verdadeiro, esse conto mais impressionante de todos?" Eles conversaram e caminharam por horas por um caminho chamado Caminho de Addison. O relógio na Torre de Magdalene marcava três da manhã antes deles partirem. Essa conversa teve um profundo efeito em Lewis. Nove dias depois, Lewis viajou de moto com seu irmão. Ele escreveu, "Quando saímos eu não acreditava que Jesus Cristo era o Filho de Deus, e quando chegamos ao zoológico, eu já cria." Depois, Lewis escreveu: "Minha longa conversa com Dyson e Tolkien tiveram um grande impacto nisso."

A conversão de Lewis revolucionou sua vida. Ele se tornou um prolifíco autor, vendendo milhões de cópias de livros e influenciando muitas pessoas em universidades, especialmente nesse país e na Europa. Devido ao fato dele mesmo ter sido ateu pela primeira metade de sua vida, ele conhecia os argumentos muito bem. Por exemplo, Lewis concordava com Freud em crer que nós, de fato, possuímos um profundo desejo por Deus, mas ele discordava com a noção de Freud de que Deus, portanto, era nada mais do que produto da satisfação de um desejo. O que nós desejamos, Lewis apontou, não tem nada a ver com a questão de se Deus existe ou não. De acordo com a teoria de Freud, o desejo da não-existência de Deus seria tão forte quando o desejo de sua existência. Lewis, portanto, disse que tudo que isso nos diz é algo sobre nossos sentimentos, mas muito pouco sobre a existência ou inexistência de Deus. Então Lewis tendia a responder a maioria dos argumentos formulados por Freud.

A Questão da Mortalidade

Vamos mudar agora para nosso segundo assunto, a questão da mortalidade, a qual Freud se referiu como "o doloroso mistério da morte." Sócrates disse que o verdadeiro filósofo está sempre negando a morte e o ato de morrer. E, de fato, a maioria dos grandes escritores escreveram continuamente sobre isso.

Uma questão fundamental da nossa existência, uma que aprendemos ainda cedo na vida, é que nós estamos aqui na terra por um curto período. Nós somos as únicas criaturas na terra que podem prever nossa própria morte. Ao mesmo tempo, nós temos um profundo anseio pela permanência e um profundo e penetrante medo de sermos separados daqueles que nós amamos sendo abandonados. O medo de ser abandonado é o primeiro medo que experimentados quando crianças, um bebê chora quando sua mão sai do quarto. Pesquisas no Hospital Geral de Massachusetts mostraram que, em pacientes terminais, isso é o que eles mais temem, o medo de serem deixados sozinhos, de serem abandonados. É um medo temos em mente por toda nossa vida. Ainda assim não podemos escapar da cruel realidade de que cada respiro que damos, cada batida do coração, cada hora do dia nos aproxima ainda mais da hora em que deixaremos para trás aqueles que nós amamos.

Agora, como você processa essa informação? Como você entra em acordo com isso? Os psiquiatras dizem que essa questão é tão importante que você não pode realmente viver sua vida até que entre em um acordo com essa informação. Mas como você processa isso sem se encher de ansiedade ou e medo? Isso é o que Freud chamou de "o doloroso mistério da morte."

Freud e o Mistério da Morte.

Freud escreveu frequentemente sobre a morte. Eu mencionarei apenas uns poucos comentários que ele escreveu e como ele frequentemente se confrontava com sua própria morte.

Em 1932, numa obra chamada Totem e Tabu, Freud fez a interessante observação de que a morte não existe na nossa mente inconsciente: "Nosso inconsciente não acredita em sua própria morte. Ele se comporta como se fosse imortal. Nós não conseguimos imaginar nossa própria morte e quando tentamos fazê-lo nos apercebemos que somos, de fato, ainda espectadores, assim, ninguém crê em sua própria morte." Freud evitou dar qualquer interpretação filosófica dessa observação provocadora de que nas profundezas de nossas mentes, "todos nós estamos convencidos de nossa imortalidade."

Em O Futuro de uma Ilusão, Freud falou frequentemente sobre o doloroso mistério da dor. Ele terminou um ensaio com a curiosa sugestão de que se você quer suportar a vida você deve estar preparado para a morte. Ele pareceu perceber o que as pessoas na minha área tem falado durante anos, que nós não podemos realmente começar a viver nossas vidas até, de alguma forma, resolver o problema da nossa própria morte. E quando isso permanece não resolvido, gasta-se uma energia excessiva ou negando a morte ou se tornando obcecado com ela.

Freud não deixou dúvidas sobre como ele lidava com o problema. Ele se tornou obcecado com a morte. Seu colega Ernst Jones, seu biografo oficial, escreveu:

Pelo que sabemos da vida de Freud, ele parece ter sido possuído por pensamentos de morte. Mais do que qualquer grande homem que eu posso imaginar. Mesmo na época que estávamos nos conhecendo ele tinha o desconcertante hábito de partir dizendo "Adeus. Você talvez não me verá nunca mais." E então haviam os repetidos ataques do que ele chamava de "o pavor da morte". Ele odiava envelhecer. Mesmo quando ele tinha quarenta anos e a cada ano que se passava, os pensamentos de morte se tornavam cada vez mais despóticos. Ele disse uma vez que ele pensava sobre isso cada dia de sua vida, o que é bastante incomum.

Freud sonhava com a morte continuamente, e desde cedo em sua vida ele era obcecado em prever sua morte. O médico de Freud descreveu sua preocupação com a morte como supersticiosa e obsessiva. Freud estava certo que morreria aos 41, depois aos 51, depois 61, depois 62, depois aos 70. Ele entrava num hotel e se lhe fosse entregue o quarto 63. Ele saia e permanecia, por meses, convencido de que morreria aos 63 anos. Quando Freud perdeu um ente querido, ele se sentiu totalmente desesperançoso. Numa carta para Jones, ele escreveu, "Eu tinha a sua idade quando meu pai morreu e isso revolucionou minha alma. Você consegue se lembrar de um tempo tão cheio de morte quanto esse?" Quando tinha 64 anos, Freud perdeu uma jovem e linda filha, e ele se perguntava quando chegaria a sua hora. Ele desejava que fosse logo. Ele disse, "Eu não sei o que resta dizer depois de um evento paralizante como esse que não gera nenhuma dúvida posterior para quem não é crente" . Em outra carta ele escreveu, "Como um descrente, eu não tenho ninguém para acusar e não há lugar onde fazer uma queixa." Três anos depois o neto favorito de Freud morreu de tuberculose. Ele escreveu para um amigo, "Isso é difícil de suportar. Eu acho que jamais experimentei tamanha dor. Talvez minha própria doença contribua para isso. Eu trabalho por pura necessidade. Tudo perdeu o sentido para mim." E em outra carta ele afirmou, "Para mim, essa criança tomou o lugar de todos os meus filhos e netos já que eu não me importo com nenhum dos meus netos. Eu não encontro nenhuma alegria na vida."

Freud morreu aos 83 anos depois de uma batalhar contra um câncer que durou 16 anos. Seu livro favorito era o Fausto de Goethe, a história de Fausto fazendo um pacto com o diabo. Logo antes de Freud morrer, ele foi até a estante da livraria e pegou um livro de Balzac entitulado The Fatal Skin, no qual o personagem principal também faz um pacto com o diabo. O livro termina quando o herói não consegue controlar seu medo da morte e morre em estado de pânico. Estranho, como último livro. Depois de ler o lviro, Freud lembrou seu médico da promessa que ele havia feito de facilitar sua passagem quando o tempo tivesse chegado. Seu médico injetou dois centigramas de morfina que o fizeram dormir, então 12 horas depois ele injetou mais dois centigramas. Freud morreu às três da manhã do dia 12 de Setembro de 1939.

C.S. Lewis e a Morte

C.S. Lewis também escreveu sobre a mortalidade. Em O Problema do Sofrimento, Lewis descreve como, quando ateu, o problema do sofrimento humano, especialmente a capacidade humana de prever sua morte enquanto intensamente deseja permanecer, foi uma barreira para ele crer num Deus bom e todo-poderoso. Após sua conversão, ele entendeu a morte como um resultado da queda, uma transgressão das leis de Deus, e que a morte não era parte do plano original. (Talvez essa seja a razão de não termos símbolo para a morte no nosso inconsciente, e termos tamanha dificuldade em aceitar nossa mortalidade.)

Lewis fez referência frequente ao principio básico que a morte ilustra. Quando tinha 31 anos, antes de sua conversão, Lewis escreveu uma carta que afirmava, "Eu penso que eu entendo isso todo ano no Outono, assim como a simples natureza e a exuberante vida do mundo está morrendo, de que algo mais está acordando. Será que isso é significante? A morte do homem natural sempre significa o nascimento do espiritual; será que algo jamais dorme se não para que algo mais acorde?"

Então alguns anos depois numa outra carta, ele escreveu, "Pode alguém acreditar que não havia nada de persistente naquele motivo de sangue, morte, e ressurreição que aparece e todos os grandes mitos?" Ele estava começando a notar enquanto estudava toda a literatura antiga que mesmo nas culturas pagãs haviam essas estranhas histórias de um deus vindo à terra, morrendo, e ressuscitando. Ele se perguntava o que isso significava. E quando você olha para a natureza, de fato você vê coisas mesmo na vida vegetal onde uma semente cai na terra, morre e volta a vida na forma de uma planta ou uma grande árvore. Será que isso pode estar apontando para o que ele eventualmente chamava de "o grande milagre," a ressurreição? Ele disse, "Certamente a história da mente humana se encaixa muito melhor se você supor que tudo isso eram as primeiras sombras de algo cuja realidade veio em Cristo mesmo se nós não conseguirmos compreender isso completamente no presente."

Tragédia Pessoal

Em sua vida pessoal, C. S. Lewis se confrontou com a morte quando era criança. Aos nove anos ele perdeu, em poucos meses, seu avô paterno, um tio, e sua linda mãe. Numa autobiografia, Surpreendido pela Alegria, ele se lembra de sempre estar confinado no seu quarto, doente com dor de cabeça e de dente. Ele estava profundamente triste por sua mãe não ter ido vê-lo. Ele não conseguia compreender a razão disso


Isso era por que ela estava doente, também: e o que era estranho é que haviam diversos médicos no seu quarto, e vozes e gente indo e vindo por toda a casa, portas se abrindo e fechando. Parecia ter durado por horas. E então meu pai, às lágrimas, entrou no meu quarto e começou a tentar explicar para a minha mente apavorada coisas que eu jamais havia concebido antes.


Disseram a ele que sua mãe estava morrendo de câncer. Ele chamou isso de "toda a existência mudando em algo estranho e ameaçador, enquanto a casa se enchia de aromas estranhos e barulhos durante a madrugada e conversas murmuradoras sinistras."



"Meu pai jamais se recuperou dessa perda," ele observou. Talvez Lewis também não, no sentido de que ele foi enviado para um colégio interno, pois seu pai estava muito deprimido para cuidar dele. Numa idade muito precoce, ele perdeu pai e mãe.



Quando tinha 18 anos e era estudante em Oxford, Lewis se juntou ao exército. Ele se feriu durante manobras na França e, numa preleção em Oxford muitos anos depois, ele fez a interessante observação de que a guerra não torna a morte mais frequente, 100 por cento de nós morremos e essa percentagem não pode ser aumentada." Ele afirmou que a guerra coloca diversas mortes mais cedo e um dos aspectos positivos da guerra é que ela nos alerta de nossa mortalidade. Quando ele tinha 23 anos ele escreveu uma carta para seu pai sobre a morte de um velho professor, amigo de ambos. Ele afirmou:

Eu vi a morte com bastante frequência [na guerra] e mesmo assim não consigo deixar de vê-la como extraordinária e incrível. Uma pessoa real é tão real e tão obviamente viva e diferente do que o corpo morto. Não é possível crer que que aquele algo se tornou em nada, que alguém pode subitamente se transformar em nada.


Isso me lembra de dos meus estudantes de medicina que acabam de iniciar a prática médica; muito frequentemente eles me chamam para falar de suas experiências na residência. Uma das coisas que os estudantes mencionam com frequência é quão diferente uma pessoa é antes e depois da morte, quão diferente um corpo é de uma pessoa viva. Eles sentem que há algo que desaparece, que não está lá após a morte, e que nós somos muito mais do que nossos corpos. Lewis pareceu reconhecer isso quando ainda era muito jovem.

A Morte Importa

Em Anatomia de uma Dor, Lewis escreveu sobre a morte de sua esposa que era para ele tudo de importante. Como eu mencionei, muitos psiquiatras consideram esse livro um clássico no entendimento do luto. Lewis faz você sentir raiva, ressentimento, solidão, e medo. Sua raiva se torna palpável quando ele imagina que Deus é um "sádico cósmico, o imbecil odioso". Ele escreveu, "É difícil ter paciência com pessoas que dizem que não há morte ou que a morte não importa. A morte existe," ele continua, "e o que quer que importa. Poderíamos também dizer que o nascimento não importa."

Lewis nunca perdeu seu senso de humor. Quando ele tinha 59 anos de idade, uma mulher escreveu para ele e disse quão terrível era ter acabado de perder um amigo. Lewis escreveu de volta, "
Não há nada de desonroso em morrer. Eu conheço pessoas respeitáveis que morreram." Em outra carta, alguns anos depois, ele escreveu, "Que estado nós chegamos para não conseguir dizer, 'Estarei feliz quando Deus me chamar' sem ter medo disso, é mórbido. Apesar de tudo, o próprio São Paulo disse o mesmo. Porque não deveríamos pensar mais para a frente, no advento?"

Lewis concluiu que nós podemos apenas fazer três coisas em relação a morte: desejá-la, temê-la, ou ignorá-la. Ele afirmou que a terceira tentativa, a qual o mundo moderno chama de saúde, certamento é a mais dificil e precária de todas.


Lewis sofreu um ataque cárdiaco em 15 de Junho de 1963, e entrou em coma. Ele se recuperou apesar disso, e viveu as poucos meses seguintes calmo e feliz. Seu último biografo nota que antes de sua conversão, Lewis era extraordinariamente ansioso em relação a morte, mas após sua conversão ele parecia ter uma maravilhosa calma quanto a isso, até mesmo uma antecipação. Relatos de seus últimos dias atestam a calma e paz interior.

Durante esse tempo, ele escreveu para um amigo de longa dada afirmando, "Apesar de eu não estar infeliz de maneira alguma, eu não consigo deixar de lamentar o fato de ter revivido em Julho". Ele continuou, "Quero dizer, tendo sido levado tão suavemente até os portões, parece duro ter o portão fechado na cara e saber que todo o processo tem que recomeçar um dia. Pobre Lázaro." E para um outro amigo ele perguntou, "Deve-se honrar Lázaro ao invés de Estevão como primeiro mártir. Ter sido trazido de volto e ter que passar por tudo de novo deve ter sido bem difícil." E então ele disse, "Quando você morrer, me procure. É tudo tão divertido, solenemente divertido, não é?"

Duas semanas antes de sua morte, Lewis almoçou com um colega da faculdade. Ele disse que Lewis estava alerta de que o fim estava próximo e que jamais houve um homem tão bem preparado. Em 22 de Novembro de 1963, às 4 da tarde, o irmão de Lewis lhe trouxe seu chá da tarde. Ele observou que Lewis estava sonolento, mas calmo e alegre. As 5h30, ele estava morto.

Nós estudamos as cosmovisões contrastantes de duas mentes prolíficas. Uma visão alega que o universo é um acidente e que nossa existência é uma questão de pura chance. A outra vê o universo como resultado de um projeto e nossa existência como parte desse projeto. Um vê a morte como um mistério doloroso que causa grande ansiedade, desespero e amargura. O outro vê a morte como o passo final do projeto para o qual sua vida foi criada, um passo que pode ser experimentado com calma e até antecipação por causa do que Lewis chamou de "o grande milagre", a ressurreição.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

" O problema real da vida crista aparece onde as pessoas normalmente nao o procuram. Ele aparece no instante em que voce acorda cada manha. Todos os desejos e esperancas para o dia correm para voce como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manha consiste simplesmente em empurra-los todos para tras; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distancia de todoas as inquietacoes e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento.
No comeco, nos somos capazes de faze-lo somente poralguns momentos. Mas entao o novo tipo de vida estara se propagando por todo o nosso ser, porque entao estamos deixando Cristo trabalhar em nos no lugar certo. Trata-se da diferenca entre a tinta, que esta simplesmente deitada sobre a superficie, e uma mancha que penetra na . Quando Cristo disse "sede perfeitos", quis dizer isso mesmo. Ele quis dizer que temos que entrar no tratamento completo. Pode ser duro para um ovo se transformae em um passaro; seria uma visao deveras divertida, e muito mais dificil, tentar voar enquanto ainda se um ovo. Hoje nos somos como ovos. Mas voce nao pode se contentar em ser um ovo comum, ainda que decente. Ou sua casca se rompe ou voce apodrecera." C.S Lewis - Cristianismo Puro e Simples

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Homem ou coelho?

C.S. Lewis


Pode-se ter uma boa vida sem se acreditar no cristianismo? Esta é a questão sobre a qual me pediram para escrever e, imediatamente antes de tentar respondê-la, tenho um comentário a fazer. A questão parece ter sido formulada por uma pessoa que diz a si própria, “Não me importo se o cristianismo é ou não verdadeiro. Não estou interessado em descobrir se o universo real é mais parecido com o dos cristãos ou com o dos materialistas. Tudo em que estou interessado é em ter uma vida boa. Vou escolher minhas crenças não porque as penso verdadeiras mas porque as considero úteis.” Francamente, acho difícil alguém simpatizar com esse estado mental. Uma das coisas que distingue o homem de outros animais é que ele quer conhecer as coisas, quer descobrir o que é a realidade, simplesmente por conhecer.[1] Quando esse desejo é, em alguém, completamente sufocado, penso que esse alguém tenha se tornado algo menos que um homem. De fato, não acredito que nenhum de vocês tenha perdido esse desejo. Muito provavelmente, pregadores tolos, ao sempre dizerem o quanto o cristianismo ajudará a vocês e o quanto ele é bom para a sociedade, tenham levado vocês a esquecerem que o cristianismo não é um comprimido que se toma para algum mal. O cristianismo alega ter uma explicação para fatos – alega poder dizê-los o que é o universo real. Sua explicação sobre o universo pode ser verdadeira, ou pode não ser, e uma vez que a questão está à sua frente, então sua natural curiosidade deve fazê-los querer conhecer a resposta. Se o cristianismo não é verdadeiro, então nenhum homem honesto desejará nele acreditar, não importa o quão útil ele seja: se ele é verdadeiro, cada homem honesto desejará nele acreditar, mesmo se isso não o ajudar de forma alguma.

Tão logo percebemos isso, percebemos algo mais. Se o cristianismo for verdadeiro, então é muitíssimo improvável que aqueles que nele acreditam e aqueles que nele não acreditam estejam igualmente equipados para ter uma boa vida. O conhecimento dos fatos deve fazer diferença para as ações realizadas. Suponha que você encontre um homem a ponto de morrer de fome e queira fazer algo de bom para ele. Se você não tivesse nenhum conhecimento da ciência médica, você iria, provavelmente, dar a ele uma grande quantidade de comida sólida; e, como resultado, seu homem morreria. Isso é o que significa agir no escuro. Da mesma forma, um cristão e um não-cristão devem, ambos, desejar fazer o bem a outros homens. Um deles acredita que os homens são eternos, que eles foram criados por Deus e, de tal forma, que eles só podem encontrar sua verdadeira e permanente felicidade na união com Deus, que eles se perderam terrivelmente no caminho, e que a fé obediente em Cristo é o único caminho de volta. O outro acredita que os homens são um resultado acidental do trabalho cego da matéria, que eles começaram como meros animais e, mais ou menos, evoluíram permanentemente, que eles irão viver por volta de setenta anos, que sua felicidade é totalmente atingida por meio de bons serviços sociais e por organizações políticas, e que tudo o mais (p. ex., vivisseção, controle de natalidade, o sistema judicial, educação) deve ser avaliado como “bom” ou “mau” simplesmente na medida em que ajuda ou atrapalha aquele tipo de “felicidade”.

Ora, há muitas coisas que esses dois homens concordam em fazer para seus semelhantes. Ambos aprovariam sistemas de esgoto e hospitais eficientes e uma dieta saudável. Mas, cedo ou tarde, a diferença de suas crenças produziria diferenças em seus propósitos práticos. Ambos, por exemplo, poderiam ser muito preocupados com a educação: mas os tipos de educação que eles desejariam para o povo seria obviamente muito diferentes. Onde o materialista perguntaria, a respeito de uma proposta de ação, apenas se “Ela aumentaria a felicidade da maioria?”, o cristão teria a dizer, “Mesmo que ela aumente a felicidade da maioria, não podemos realizá-la. Ela é injusta.” E todo o tempo, uma grande diferença atravessaria todas as suas políticas. Para o materialista, as coisas como nações, classes, civilizações devem ser mais importantes que os indivíduos, porque os indivíduos vivem, cada um, míseros setenta anos e o grupo pode durar séculos. Mas para o cristão, indivíduos são mais importantes, pois eles vivem eternamente; e raças, civilizações etc. são, em comparação, criaturas de um dia.

O cristão e o materialista têm crenças diferentes sobre o universo. Eles não podem estar ambos certos. Quem estiver errado agirá de uma forma que não se adequa ao universo real. Conseqüentemente, com a melhor das boas intenções do mundo, ele estará ajudando seus semelhantes a se destruírem.

Com a melhor das boas intenções do mundo ... então não será culpa sua. Certamente Deus (se houver um Deus) não punirá um homem pelos seus erros “honestos”? [2] Mas isso era tudo o que você pensava? Você está preparado para correr o risco de trabalhar no escuro em toda a sua vida e fazer um infinito mal, desde que alguém nos assegure que nossa própria pele estará a salvo, que ninguém nos punirá ou nos culpará? Não acreditarei que o leitor está neste nível. Mas mesmo se estiver, há algo a ser dito.

A questão diante de nós não é “Alguém pode ter uma boa vida sem o cristianismo?”. A questão é, “Você pode?” Todos sabemos que tem havido bons homens que não foram cristãos; homens como Sócrates e Confúcio que nunca ouviram falar de cristianismo, ou homens como J.S. Mill que muito honestamente não poderia nele acreditar. Suponha que o cristianismo seja verdadeiro. Esses homens estavam numa ignorância ou erro honesto. Se suas intenções fossem tão boas quanto suponho (pois, claro, não posso ler os segredos de seus corações) espero e acredito que a misericórdia de Deus remediará os males que suas ignorâncias, deixadas a si mesmo, naturalmente produziriam em si próprios e naqueles que eles influenciaram. Mas o homem que me pergunta, “Não posso viver uma boa vida sem acreditar no cristianismo?” não está na mesma posição. Se ele não tivesse tido notícia do cristianismo ele não estaria formulando essa questão. Se, tendo tido dele notícia, e o tendo considerado seriamente, ele tivesse decidido que ele não era verdadeiro, então, novamente, ele não estaria formulando a questão. O homem que formula a questão ouviu falar do cristianismo e não está certo, de forma alguma, de que ele não seja verdadeiro. Ele está realmente perguntando, “Será que eu preciso me preocupar com ele? Será que eu não posso apenas esquecer a coisa, sem cutucar a onça com a vara curta, e simplesmente me preocupar com a parte ‘boa’? Não são as boas intenções suficientes para me manter seguro e sem culpa, sem a necessidade de bater naquela temerária porta e ter de verificar quem estará, ou não, lá dentro?”

Para tal homem, pode ser suficiente responder que ele está realmente pedindo para ficar com a parte ‘boa’ antes de ele ter feito o melhor de si para descobrir o que ‘boa’ significa. Mas essa não é toda a estória. Não precisamos perguntar se Deus o punirá por covardia ou preguiça; ele próprio se punirá. O homem está se esquivando. Ele está tentando deliberadamente não saber se o cristianismo é verdadeiro ou falso, porque ele prevê problemas sem fim se ele se provar verdadeiro. Ele se parece com o homem que deliberadamente se ‘esquece’ de consultar a lista de tarefas do dia porque, se o fizesse, poderia encontrar seu nome relacionado a alguma tarefa desagradável. Ele se parece com o homem que não verifica sua conta bancária porque teme o que possa descobrir lá. Ele se parece com o homem que não vai ao médico quando uma misteriosa dor aparece, porque teme o que o doutor pode lhe contar.

O homem que permanece um incréu por tais razões não está na situação de um erro honesto. Ele está numa situação de erro desonesto, e essa desonestidade se difundirá por todos os seus pensamentos e ações: uma certa volubilidade, uma vaga preocupação no fundo de sua mente, um embotamento de toda a sua sutileza mental, resultará. Ele terá perdido sua virgindade intelectual. Rejeição honesta de Cristo, embora seja um erro, será perdoado ou curado – “Todo aquele que falar contra o Filho do Homem, ser-lhe-á dado perdão.” [3] Mas evitar o Filho do Homem, olhar para o outro lado, fazer de conta que você não O notou, ficar repentinamente absorvido com algo do outro lado da rua, deixar o telefone fora do gancho porque pode ser Ele do outro lado da linha – isso é uma coisa muito diferente. Você pode não estar certo ainda se deve ser um cristão; mas você sabe muito bem que deve ser um Homem, não uma avestruz, escondendo sua cabeça na areia.

Mas mesmo assim – pois a honra intelectual desceu a um nível muito baixo em nossos dias – escuto alguém lamuriando com a questão, “Ele me ajudará? Ele me fará feliz? Você pensa mesmo que minha situação melhorará se me tornar cristão?” Bem, se você precisa mesmo de minha resposta, ela é “Sim.” Mas eu não gostaria de dar uma resposta neste ponto. Eis aqui a porta atrás da qual, segundo alguns, o segredo do universo está esperando por você. Ou isso é verdade ou não é. E se não for, então o que a porta realmente esconde é simplesmente a maior fraude, a maior empulhação jamais registrada. Não é, obviamente, tarefa de todo homem (um homem, não um coelho) tentar descobrir o que está atrás da porta e, então, se devotar com todas as suas energias a obedecer e honrar esse tremendo segredo ou a expor e destruir essa gigantesca impostura? Desafiado por tal situação, poderá você permanecer totalmente absorvido com seu próprio abençoado ‘desenvolvimento moral’?

Certo, o cristianismo lhe fará bem – muito mais do que você alguma vez desejou ou esperou. E o primeiro pedacinho de bem que ele lhe fará é martelar em sua cabeça (e você não gostará disso!) o fato de que o que você até agora chamou de “bom” – tudo aquilo sobre “ter uma vida decente” e “ser bom” – não é bem o acontecimento magnificente e da maior importância que você supunha. Ele lhe ensinará que, de fato, você não poderá ser ‘bom’ (não por vinte e quatro horas) contando apenas com seus próprios esforços morais. E então ele lhe ensinará que mesmo que você pudesse, você ainda não teria atingido o propósito pelo qual foi criado. A mera moralidade não é o fim da vida. Você foi feito para algo muito diferente. J.S. Mill e Confúcio (Sócrates estava muito mais próximo da realidade) simplesmente não sabiam o que significa a vida. As pessoas que continuam a perguntar se não se pode ter uma vida decente sem Cristo, não sabe o que é a vida; se eles soubessem, eles saberiam que ‘uma vida decente’ é um mero mecanismo comparado com a coisa de que nós homens somos feitos. A moralidade é indispensável: mas a Vida Divina, que se dá a nós e que nos convida a ser deuses, planeja algo para nós em que a moralidade será nele absorvida. Temos de ser re-feitos. Todo o coelho que existe em nós desaparecerá – o coelho preocupado, escrupuloso e ético e também o covarde e sensual. Sangraremos e guincharemos na medida que punhados de pêlos forem arrancados; e então, surpreendentemente, descobriremos por sob o pêlo uma coisa que nunca antes imaginamos: um Homem real, um deus imemorial, um filho de Deus, forte, radiante, sábio, bonito e imerso em alegria.

“Mas quando vier o que é perfeito, será abolido o que é imperfeito” [4] A idéia de atingir ‘uma vida boa’ sem Cristo é baseada num duplo erro. Primeiramente, não podemos tê-la; e em segundo lugar, ao estabelecer ‘uma vida boa’ como nosso objetivo, perdemos a verdadeira razão de nossa existência. A moralidade é uma montanha que não podemos subir por nossos próprios esforços; e se pudéssemos, apenas pereceríamos no gelo e no ar irrespirável do cume, na falta daquelas asas com as quais o resto da jornada terá de ser empreendida. Pois é de lá que a ascensão real começa. As cordas e os machados ‘já eram’ e o resto é uma questão de voar.



Extraído do livro God in the dock [Deus no banco dos réus.]




quinta-feira, 23 de julho de 2009